16 de fev. de 2011

Economia Criativa e o MinC (Editorial da Folha de S. Paulo)

Economia criativa

Ao criar a Secretaria de Economia Criativa, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, dá sinais de que sua pasta pretende replicar no Brasil iniciativas de países que investiram nessa área e incentivaram o desenvolvimento das chamadas "cidades criativas".
A economia criativa envolve atividades que produzem riqueza por meio da propriedade intelectual. No Reino Unido, o Departamento de Cultura, Mídia e Esporte (DCMS) considera que arquitetura, publicidade, artes, artesanato, design, moda, cinema, software, música, televisão e rádio fazem parte desse universo.
A Austrália foi o primeiro país a promover políticas voltadas para o setor, mas o termo só obteve projeção no fim da década de 1990, quando o primeiro-ministro britânico Tony Blair lançou a Força-Tarefa das Indústrias Criativas. No Brasil, estima-se que tais indústrias representem diretamente 2,6% do PIB -e que seus efeitos multiplicadores alcancem 16%.
O Ministério da Cultura (MinC) parece interessado sobretudo nas experiências das chamadas cidades criativas. Manchester, Liverpool e Barcelona são exemplos de centros urbanos que investiram em novas soluções arquitetônicas e urbanísticas, renovaram suas economias e emergiram da decadência para o patamar de polos de turismo com atrativos culturais.
Segundo a responsável pela nova secretaria do MinC, a ideia inicial é ocupar prédios históricos com atividades que gerem riqueza e inclusão social. Diga-se que já há no país iniciativas desse tipo, como a recuperação do centro antigo de Recife, que passou por mudanças para abrigar indústrias na área de software e games.
Resta saber o que a nova secretaria poderá acrescentar -considerando os limites da atuação do ministério. Desde já, ações nesse terreno exigiriam articulações, nem sempre fáceis, com outras pastas e instâncias de poder.
Não é demais lembrar, também, que a economia criativa é intensiva em mão de obra qualificada. Quem de fato gera valor nessa cadeia são os inovadores, pessoas cujo talento torna-se produtivo quando há investimento sistemático em educação e pesquisa. E nisso, como se sabe, o Brasil ainda tem muito o que avançar.