29 de ago. de 2011

Noruega leva engenharia e ciência às crianças



Da Folha de domingo

Indústria petrolífera patrocina parque interativo que explica oceano e petróleo
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A BERGEN (NORUEGA)
Um parque de diversões dedicado às ciências é a arma da indústria petrolífera da Noruega para despertar a vocação de futuros engenheiros e cientistas.
De simuladores de navio, onde crianças podem virar comandantes por um dia, a máquinas interativas que explicam como o petróleo se forma no fundo do mar ou como você pode construir um motor, uma bateria e até uma bomba de petróleo, o Centro das Ciências de Bergen serve de chamariz dessa indústria.
Assim como no Brasil, os noruegueses se queixam do gargalo da falta de engenheiros e da necessidade de estimular a pesquisa científica entre os mais jovens.
No fim da década passada, apenas 15% dos recém-formados noruegueses tinham estudado ciências exatas -ante 28% na vizinha Suécia ou quase 40% na Coreia do Sul.
O país já importa engenheiros da Islândia até das Filipinas.
O centro em Bergen, segunda maior cidade da Noruega, é uma versão mais high-tech e itinerante da Fundação Catavento, no centro de São Paulo.
Chamado de VilVite (expressão norueguesa para "querer saber mais"), o parque foi aberto em 2007 a partir de um fundo criado pela estatal Statoil/Hydro. Ela colocou o equivalente a R$ 20 milhões para as primeiras instalações e outros R$ 20 milhões para investimentos até 2015.
Outras 17 empresas patrocinam o centro, junto com o governo de Bergen e o da Noruega. Cinquenta por cento da manutenção vem dos ingressos e do aluguel de instalações, e os patrocinadores são responsáveis pela outra metade.
GRAVIDADE
Dividido em três seções -oceano, clima e energia-, o VilVite tem 75 máquinas interativas. Há um estúdio de previsão do tempo em que o visitante pode bancar o apresentador de TV e gravar a apresentação de ventos, chuvas e trovoadas, assim como um exercício mais pragmático sobre como se pode desperdiçar menos água.
Telões que apresentam a formação das ondas, da neblina e da chuva, quase eterna em Bergen.
Os equipamentos mais lúdicos -ou com mais pinta de parque de diversões- são os que atraem mais filas, demonstrando que criança nórdica não é assim tão diferente da brasileira.
Há bicicletas ergométricas que servem para medir quanta energia você gera com suas pedaladas e, a maior atração de todas, chamada Força-G, que é uma redoma de vidro onde você pode testar a ação das forças centrípetas, centrífugas e a lei da gravidade, enquanto pedala.
"Nosso objetivo é ter atrações para todas as idades, para jovens de zero a 100 anos", diz Svein Anders Dahl, diretor-gerente do VilVite.
"Além de atrair as crianças para as ciências, também queremos que mais meninas pensem em ser engenheiras."
Anda é cedo para descobrir se as crianças que se divertem no parque científico virarão, de fato, engenheiros ou cientistas.
Mas pré-universitários já são maioria por ali: 65% dos 120 mil visitantes anuais do centro têm menos de 18 anos. Palestras com cientistas são organizadas para escolas. E 1/3 dos frequentadores faz parte de grupos escolares de todo o país -Bergen tem apenas 240 mil habitantes. 

O jornalista RAUL JUSTE LORES viajou a convite do governo norueguês