27 de jan. de 2011

Falta de mão de obra pressiona os preços de produtos e serviços

Com dificuldade de encontrar profissionais, empresas aumentam salários e repassam custo extra

A atual escassez de trabalhadores dificulta expansão e favorece migração de indústrias buscando funcionários 

A falta de mão de obra já faz muitos setores elevarem o preço de seus produtos e serviços em decorrência do aumento de custo provocado pela necessidade de pagar salários maiores para reter ou contratar profissionais.
São exemplos dessa tendência a construção civil, o comércio e até mesmo o emprego doméstico, cujo contingente de trabalhadores caiu 1,1% em 2010 nas principais regiões metropolitanas do país, segundo estudo da LCA Consultores, feito, a pedido da Folha, a partir de dados de preços e mercado de trabalho do IBGE.
Entre as altas de preço ao consumidor mais expressivas em 2010, estão empregado doméstico (11,81%), mão de obra para reformas e manutenção (10,56%), vestuário (7,48%) e alimentação fora de casa (9,81%).
Todos tiveram aumentos superiores à inflação média (5,91%, pelo IPCA). Os salários das categorias nas quais se inserem subiram também acima da renda média pesquisada pelo IBGE.
Num sinal de oferta restrita de trabalhadores, o rendimento na construção registrou aumento recorde de 11,1% de janeiro a novembro.
Hoje o IBGE divulga os dados de dezembro do mercado de trabalho e a expectativa é de que o avanço da renda e do emprego na construção se repitam.
"A falta de mão de obra, e não só de trabalhadores com alto grau de qualificação, atinge vários setores, mas a construção é o mais afetado pelo problema", diz Fábio Romão, economista da LCA.
Amos Genish, presidente da GVT, diz que a empresa esbarra na falta de mão de obra especializada em construção para expandir mais rapidamente sua rede de telefonia e dados.
"Esse aumento é uma tendência muito clara em alguns ramos de serviços, vestuário e construção, o que traz ainda mais preocupação ao cenário de inflação para 2011", avalia Laura Haralyi, analista do Itaú Unibanco.
Outros setores também sofrem com a escassez de mão de obra. No comércio, o total de trabalhadores avançou apenas 1,1% de janeiro a novembro de 2010 -taxa abaixo do crescimento vegetativo da população.

SALÁRIOS
Segundo Alexandre Sampaio, presidente da Federação Brasileira de Alimentação e Hospedagem, a dificuldade de encontrar profissionais levou o setor a reajustar salários em até 12% -quase seis pontos acima da inflação. A mão de obra é o principal custo do setor e responde por 30% das despesas.
A indústria do vestuário vive a mesma situação: o setor teve de aumentar salários em cerca de 8% em 2010. Muitas fábricas migraram de São Paulo principalmente para o Nordeste em busca de mão de obra (principal custo do setor, com peso de 30%) mais barata, segundo Fernando Pimentel, superintendente da Abit (associação da indústria têxtil).
Diante da perspectiva de economia ainda aquecida em 2011, Romão espera novos reajustes salariais acima da inflação -porém mais brandos, diz, em decorrência da expectativa de aumento menor do salário mínimo, que teve ganho real de 6% em 2010.